Não são todos os dias que você conhece alguém que afirma que um dia quer trabalhar com Egiptologia. Então, imagino o nível de estranhamento que algumas pessoas devem ter tido quando me escutavam na adolescência, afirmando aos quatro cantos do mundo que um dia queria ser arqueóloga especialista em antiguidade egípcia. O normal era querer carreiras “seguras” como advocacia, medicina, engenharia ou aquelas que dão a impressão de notoriedade, como jogador de futebol, modelo ou, nos dias de hoje, tiktoker.
Na infância, somos bombardeados com a pergunta do que queremos ser quando crescer, perguntas essas que envolvem perspectivas financeiras e medem o nível de ambição da criança. Mas o que esquecem de nos falar é que, independentemente da profissão escolhida, seja médico ou tiktoker, isso não é garantia de sucesso financeiro.
Então, com tantas profissões que culturalmente aprendemos que podem nos dar um conforto financeiro até a nossa velhice, por qual motivo alguém escolheria a Egiptologia? Uma disciplina acadêmica que oficialmente nem sequer tem uma cadeira acadêmica aqui no Brasil?
Amor e vocação são duas das respostas!
Mas, seja lá quais forem seus motivos, se tem somente curiosidade em entender o que é a Egiptologia e como ela atua em nossa sociedade atual, terei um enorme prazer em ser sua guia.
Em primeiro lugar, a pessoa que atua na Egiptologia foca em extensas pesquisas que envolvem o estudo da língua, cultura, sociedade, religião e história do Antigo Egito. Como dá para imaginar, é um conhecimento muito especializado onde, dentre várias coisas, o que conta é a habilidade no trabalho com artefatos egípcios, além de, claro, o entendimento e análise dos hieróglifos egípcios. E, a princípio, pode parecer que não tem importância nenhuma dedicar a vida a estudar a antiguidade egípcia, uma civilização que existiu há 2000 anos em outro continente. Porém, além da busca pelo conhecimento, ou seja, entender mais sobre o comportamento humano e a formação de sua identidade cultural (além de outras coisas, como entender o desenvolvimento de doenças antigas, taxas de natalidade, migrações, etc.), está o fato de que o Egito Antigo, no último século, passou a fazer parte da cultura popular de sociedades ocidentais e ocidentalizadas (como é o caso do Brasil). Assim, é objeto de desejo e apropriação cultural extensa. Por isso, é importante conhecer as implicações disso.
Entretanto, não falarei aqui sobre como se dá a formação, mas sobre alguns caminhos que alguns pesquisadores têm seguido e podem seguir.
Um deles tem relação com os estudos. Hoje, existem algumas recomendações dadas por alguns cursos e instituições internacionais, como, por exemplo, é recomendável ter o hábito de ler muito. Se você não gosta de ler, não se preocupe, porque a leitura é um exercício. Mas a outra dica é mais complicada e já mostra o forte recorte social, que é aprender ao menos inglês, francês e alemão. Essas três línguas são os pilares da Egiptologia. Infelizmente, o meio acadêmico ainda é um espaço elitista, por isso é importante questionar sempre os cortes de bolsas de estudos e lutar por ajustes nos valores.
Outro ponto que mostra o forte elitismo da Egiptologia está no conselho que é dado de que é importante o aluno visitar o Egito, nem que seja como turista. Ou, mais aconselhado, que estude em escolas de campo (e o dinheiro para pagar a escola, passagens, seguro de saúde, a alimentação, etc., usualmente sai do bolso do aluno). E nessas escolas, que duram poucas semanas, o aluno aprenderá a lidar com artefatos arqueológicos, copiar imagens parietais e outras habilidades sugeridas pela escola. Outra atividade extremamente aconselhada é o estágio em museus. No meu caso, não exerci nenhuma dessas atividades. Eu cheguei a passar em uma escola de campo em Amarna, mas devido a diferentes motivos, entre eles financeiros, não pude ir. Então, só tive a oportunidade de atuar na parte da conclusão de curso, que é uma extensa atividade que visa desenvolver habilidades de pesquisa dos alunos.
Mas, em relação à perspectiva de trabalho, a resposta pode não agradar muito. Ao se formar, independentemente de onde você estudou, é pouco provável que consiga trabalhar na área. E não escrevo isso querendo desestimular, mas mostrando que existe essa desagradável realidade, que, sejamos francos, não assola apenas a Egiptologia. Quantas pessoas formadas em diferentes áreas não estão atuando na mesma? Mas, isso não quer dizer que a solução está em abandonar o ensino superior, mas questionar, dentre várias coisas, de onde vem a ampla mídia de sucateamento acadêmico e negacionismo científico. Enfim…
Aos que atuam diretamente na área, geralmente trabalham com curadoria de peças egípcias em museus e dando palestras. Mas também existem os casos daqueles que se formam e não encontram espaço no escasso mercado de trabalho da Egiptologia, ou simplesmente não querem e também existe esta opção e tudo bem! Apesar das perspectivas de trabalho serem poucas, ainda assim uma formação em Egiptologia pode abrir algumas portas. Por exemplo, algumas empresas podem se interessar por suas habilidades em pesquisas acadêmicas, seja para organizar o histórico da empresa ou outro tipo de pesquisa, já que a pessoa aprendeu a escrever criticamente. No exterior, uma formação básica que envolve Egiptologia tem quem migre para a administração, direito financeiro, serviço público, jornalismo ou algo envolvendo indústria. Fora empresas que só contratam quem tem nível superior (seja lá de em qual área seja). O formando pode também usar sua graduação para lecionar como professor do ensino fundamental e médio. Outras possibilidades são trabalhar em agências de turismo patrimonial ou instituições patrimoniais, como a UNESCO.
Cada um desses caminhos depende de seus objetivos e, claro, oportunidades.
Espero ter ajudado vocês de alguma forma. Algumas das informações para este post foram retiradas das fontes abaixo. E se quiserem começar a entrar no mundo do estudo do Egito Antigo, também abaixo estão algumas dicas de leituras:
Dicas de leituras:
História do Egito Antigo
https://amzn.to/455avqA
Egito Antigo
https://amzn.to/3YkwyY8
Egiptomania: O Egito no Brasil
https://amzn.to/3OauX2s
Fontes:
Egyptology Major
https://youtu.be/5hizO40pXKU
How to Become an Egyptologist
https://www.oxfordcollege.ac/news/become-egyptologist/
What is Egyptology?
https://www.thebritishacademy.ac.uk/blog/what-is-egyptology/
MPhil in Egyptology
https://www.ox.ac.uk/admissions/graduate/courses/mphil-egyptology
Acompanho o seu trabalho a bastante tempo,e sempre fico admirado com o seu carinho e dedicação para o seu trabalho
Conteúdo fantástico e profissional também srrs
Parabéns pela sua persistência.
Acho a história do antigo Egito além de ser fascinante é um ponto da evolução do ser humano, aonde observamos uma cultura muito avançada para a época!
Eu acho a arqueologia é uma área incrível! Parabéns pelo trabalho, Márcia.
Lí o texto mas ouvia sua voz narrando-o!
Caso se interesse, faz um texto sobre as diversas técnicas de aplicar as bandagens nas múmias?
Grato e parábens!
Lí o texto mas ouvia sua voz narrando-o!
Caso se interesse, faz um texto sobre as diversas técnicas de aplicar as bandagens nas múmias?
Grato e parabéns!
Obrigada pelo texto, muito esclarecedor.
Escolhi o latim e a literatura latina. No mestrado, as aulas eram durante a manhã e tarde. Nenhuma empresa aceita. Realmente, a universalidade do ensino só atingiu a Educação Básica.
Fantástico a iniciativa meus parabéns.
Sou apaixonado também pelo assunto.
Faço arqueologia na Unimes. E desejo a todos ótimos estudos.
Márcia você é D +++++++++. Muito obrigado.
Seu conteúdo é o melhor!!!!!! Me apaixonei pela a arqueologia devido aos seus conteúdos, que conheci pelo fato de amar o antigo Egito e estar sempre buscando conteúdo a cerca dele. Te desejo muito sucesso!!!!